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A mostrar mensagens de março, 2018

Ed Motta

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Ed Motta 'Manual Prático Para Festas, Bailes E Afins Vol 1' 1997 'As Segundas Intenções Do Manual Prático' 2000 É quase sempre mal visto quando um artista faz um disco para pagar a renda da casa. Quando um disco é abertamente comercial (aqui só para nós todos os discos são comerciais, todos os artistas tentam chegar ao maior número de pessoas possíveis, embora alguns se façam difíceis) chovem impropérios dos fãs mais aguerridos, da crítica musical e até, como acontece com o Ed Motta e o seu ' Manual ', do próprio autor. Em várias entrevistas ele disse que não morria de amores pelo disco, electrónica a mais e coisas assim. Mas birras á parte o 'Manual' e a sua continuação, 'As Segundas Intenções' são dois bons pedaços de pop dançante, onde, com o apoio de letristas bem bacanas, a Rita Lee, o Chico Amaral ou o Nelson Motta, o Ed Motta espraia a sua carismática voz sobre as suas composições tingidas de Disco , funk, reggae ,  soul e jazz , géner

ABC

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ABC 'The Lexicon Of Love' 1982 Uma das minhas memórias mais gratas é de na infância ter visto muitos dos melhores musicais americanos na televisão com a minha mãe. Ela adorava as estrelas, Cyd Charisse, Fred Astaire, Gene Kelly, Ginger Rogers, a sumptuosidade de cenários e figurinos, a elegância das coreografias e as estórias simples de amor. Por isso quando em 1982, já eu era um rapaz espigadote que começava a ver o Fuller e o Ray na rtp2, vi o video da 'The Look Of Love' , exclamei, 'eu acho que já vi isto!'. E tinha. Os ABC prestam nesse video uma vénia ao genial 'Um Americano Em Paris' . Apaixonado pela soul americana o Martin Fry escreveu aqui algumas das melhores canções da pop dos anos oitenta (e uma das minhas preferidas de sempre,  'All Of My Heart' ) mas que não se ficam por aí porque elas continuam hoje, apesar da produção em alguns pontos algo datada, tão frescas como no dia em que saíram. O produtor do disco, o Trevor Horn, defini

David Joseph

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David Joseph 'You Can't Hide (Your Love From Me)' 1983 Não só este single foi um dos mais marcantes nas pistas de dança pós disco/pré house como esteve presente num momento crucial do djing, pelo menos em solo britânico. O David Joseph que tinha sido vocalista de uma das bandas pioneiras do funk em Inglaterra, os Hi Tension , lançou a sua carreira a solo com este 'You Can't Hide (Your Love From Me)' , que depois de passar pelas mãos mágicas do Larry Levan , o mítico DJ do Paradise Garage , clube nove iorquino que foi uma espécie de protótipo do que seriam as discotecas daí em diante, e no qual o Levan trabalhou desde o final dos anos setenta até ao seu encerramento em 1987, passou a ser obrigatório nas malas dos melhores DJs. E foi precisamente um DJ, o Greg Wilson, que o levou para tocar na primeira vez em que se  misturou ao vivo na televisão inglesa. O que era norma na ilha era os DJs fazeram o lançamento da música anunciando-o através do microfone, sem m

Barry Adamson

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Barry Adamson 'Moss Side Story' 1989 A chuva caía enquanto a cidade ia adormecendo. Amanhã faz um mês que não pára de cair e eu estou a ficar muito irritado. Há pessoas que acham relaxante o som da chuva a bater nos vidros, eu fico do lado errado do relaxamento , apetece-me sempre dar um tiro em alguém. Por falar em tiros, tenho que limpar a minha Beretta mas antes tenho que tomar alguma coisa para o estômago, esta úlcera está a matar-me. Ontem no café o Maynard recomendou-me beber um copo de leite mas o cheiro enjoa-me. Oh que se lixe, um copo de whisky e vamos ao trabalho. Tenho que mudar os meus cartões. Barry Adamson, Detective Privado, In a black and white world murder brings a touch of colour , esta frase já criou alguns equívocos com clientes e problemas com o chuis. Tenho que enviar a conta ao velho da filha desaparecida. Espero que me pague. Ele não gostou de ver nos jornais que a sua querida filha era uma depravada que fazia de sua casa os bares mais pesados da cid

The Jesus And Mary Chain

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The Jesus And Mary Chain 'Psychocandy' 1985 Duas estórias e um epílogo. Primeira estória - Eu andava doido para pôr a mão no 'Psychocandy'. Tinha adorado logo à primeira assim que os tinha ouvido no inevitável Som da Frente. Por isso quando o consegui, na também inevitável Tubitek, corri para casa para o ouvir. Encontrei o meu vizinho Zé pelo caminho e convidei-o para vir ouvir o fabuloso LP que tinha acabado de comprar. Não reparei e pus o lado B a tocar primeiro. O que significou que em vez de um início de audição mais suave com o  'Just Like Honey' , surgiu nas colunas um agudo feedback e depois a distorção abrasiva do  'Never Understand' . Nem tinham passado 10 segundos e ouvi, "Tens que comprar uma agulha nova, Pedro. Essa está toda fodida." Segunda estória - Os Jesus and Mary Chain vieram tocar ao Porto em 1992. Já tinham editado os mais amigos dos ouvintes  'Darklands' e 'Automatic' . Mas a atitude em palco ainda era

Felt

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Felt Ignite The Seven Cannons And Set Sail For The Sun 1985 O desventurado Lawrence só queria escrever canções simples sobre raparigas. O infortunado Lawrence só queria gravar o melhor album de estreia de sempre da música inglesa. O desditoso Lawrence só queria que as suas músicas fossem numero um nos tops. O infeliz Lawrence só queria ser um líder amado e respeitado. O infausto Lawrence só queria gravar dez albuns em dez anos e depois cada um seguia o seu caminho. A sorte não lhe sorriu e as coisas não correram como ele tinha planeado, a não ser esta última resolução, e mesma esta não foi fácil. Depois de gravado o dito cujo décimo, o `Me And A Monkey On The Moon´ , na hora de pagar a conta o Alan McGee, o patrão da Creation com quem tinham contrato, disse que estava nas lonas e não tinha como o fazer. Foi o Martin Costello que tinha trabalhado com eles na Cherry Red Records que se chegou á frente e lançou o album na sua nova editora, a Él. Mas não era só má sorte, o nosso mal-afor

Two Banks Of Four

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Two Banks Of Four 'City Watching' 2000 Quando li que o Rob Gallagher e o Demus tinham juntado forças num projecto novo, em 1998 com o lançamento do maxi 'Skylines Over The Rooftops' , fiquei inquieto e com algum receio. Estes dois rapazes tinham militado em duas das minhas bandas favoritas da primeira metade dos anos noventa, os  Young Disciples no caso do Demus, e o Rob Gallagher nos Galliano , e por isso a possibilidade de me estragarem as boas memórias que guardava deles era uma possibilidade real. Mas esses receios desapareceram quando comecei a ouvir as novas propostas destes dois jazzheads. O jazz continuava a ser o foco central, indo ao funk e á soul para compor a sonoridade, o que de resto já acontecia nos seus projectos anteriores, mas com a diferença de que enquanto no passado a parte orgânica ocupava praticamente todo o espaço, este agora é dividido com a electrónica, actualizando o seu som, colocando-o ao lado da nova corrente nascida por estes anos, o b

Ryuichi Sakamoto

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Ryuichi Sakamoto 'Heartbeat' 1991 'Sweet Revenge' 1994 'Smoochy' 1995 Se eu atribuísse doutoramentos honoris causa aqui no cartografias o sr Sakamoto seria uma das escolhas óbvias. Poucos navegaram por tantos estilos musicais e por tantas latitudes geográficas sem perder o pé, ou a criatividade, ao longo de quatro décadas como o fez este homem nascido em Tóquio mas que é verdadeiramente, passe o clichê, um cidadão do mundo. Ele que acredita na utopia do 'outernationalism', um mundo de comunicação, troca, mas sem países ou nacionalismos. Em muitos momentos da sua carreira esteve à frente do seu tempo, o Afrika Bambataa disse que os Kraftwerk e os  Yellow Magic Orchestra  eram os culpados pelo aparecimento do hip hop, mas mesmo quando não era tão relevante, como é o caso deste trio de álbuns, é sempre inteligente, curioso e elegante. Estes três discos são o culminar de um processo de trabalho da canção pop, misturando, como é seu hábito, muitos estil

Cerrone

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Cerrone 'Love In C Minor' 1976 É muito difícil fazer com que um álbum de três faixas, sendo que a que ocupa todo o lado A tem dezasseis minutos e picos, seja um sucesso planetário, mas um pequeno baterista francês de bigode manhoso conseguiu-o. Quando foi apresentar o seu disco de estreia a solo, antes tinha tido uma banda, os The Kongas , com um ou dois hits e objecto de culto anos mais tarde, os responsáveis de várias editoras também pensaram o mesmo e disseram que ele era maluco. Então decidiu avançar sozinho e começou a vender pequenas quantidades, três aqui, cinco acolá, a algumas discotecas em França e, entretanto,  começou a ter algum sucesso numa em especial, em Champs-Élysees, muito frequentada por djs. A certa altura essa mesma discoteca encomendou-lhe 300 discos porque tinha muita gente interessada. Dois dias depois da entrega o responsável da loja telefona-lhe a dizer que um dos seus empregados tinha feito asneira. Devia ter devolvido ao armazém em Nova Iorque 30

Jake Sollo

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Jake Sollo 'Jake Sollo' 1979 Numa tarde de Março invulgarmente quente para Nova Iorque, o Chris e a Tina estavam a beber umas fresquinhas na esplanada em frente ao CBGB enquanto esperavam pelos outros para o ensaio. Entretanto chega o Jerry, 'Por onde andaste? Estás atrasado.' 'Oh pà, estava a fumar um com o Jonathan e sabes como ele é, nunca mais se cala. Que tinha estado a dançar num bar de lésbicas , as cenas que fez no  verão passado...' ia contando o Jerry quando surge um esbaforido David a pedalar furiosamente com um disco na mão. Atira a bicicleta para o chão, bebe um gole da cerveja da Tina, e dispara, 'Malta, já sei o que vamos fazer no próximo álbum. Estive agora em casa de um amigo a ouvir uns discos que ele trouxe de Lagos...' Eh pà, por acaso estava a pensar nas próximas férias ir até ao Algarve' diz um intoxicado Jerry. 'Cala-te estúpido! Lagos, Nigéria. Bem o facto é que fiquei maravilhado. Aquilo é rock, funk, com uma pita

United Future Organization

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United Future Organization 'Jazzin' 1992 'United Future Organization' 1993 Trabalhei uma porrada de anos, p'rai uns dez, num bar ali para os lados da Foz, o Quando Quando. Fiz várias noites da semana mas as terças fiz quase ininterruptamente durante todos esses anos.  Foram centenas as histórias durante esses largo período de tempo mas recordo para aqui uma precisamente passada nessas terças feiras. Durante p'rai um ano um senhor nos seus cinquenta, sessenta anos, aparecia quase todas as terças, quase sempre sozinho, bebia o seu copo ao balcão, ficava uma, duas horas e saía. Até que um dia depois de acabar o sua bebida dirigiu-se à cabine e apresentou-se. Era inglês , tinha estado a trabalhar em Portugal e agora ia regressar a casa. Queria agradecer a música que lhe tinha feito companhia nessas noites. Gostava especialmente do que estava a tocar nesse momento,  os United Future Organization. Seguiu-se uma pequena conversa sobre o gosto comum pela nova onda de

Colourbox

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Colourbox 'Colourbox' 1985 Para um fã hardcore da 4AD trazer os Colourbox para a editora fazia tanto sentido como alguém  pedir ao Manuel Serrão para fazer parte do corpo de baile numa encenação do 'La Sylphide'. Mas o Ivo Watts-Russell, o patrão da 4AD, gostou de uma cassete com alguns temas, entre eles o  'Breakdown' que foi o primeiro single, e juntou-os aos góticos bucólicos que tinha lá por casa. Miúdos apanhados no turbilhão do punk e pós punk, cresceram a ouvir rock mas também funk e reggae. O álbum de estreia, e único, é um caldeirão onde cabem todas essas influências. Com os ouvidos cheios de electro funk que vinha de Nova Iorque desde o início dos oitentas, ouve-se dancehall em 'Say You' , versão de um clássico do  U-Roy , guitarras e samples em ' Just Give Em Whiskey ', soul na versão da 'You Keep Me Hangin' On', clássico das Supremes nos anos sessenta, e na magnífica voz da Lorita Grahame na 'The Moon Is Blue'