Felt

Felt
Ignite The Seven Cannons And Set Sail For The Sun
1985
O desventurado Lawrence só queria escrever canções simples sobre raparigas. O infortunado Lawrence só queria gravar o melhor album de estreia de sempre da música inglesa. O desditoso Lawrence só queria que as suas músicas fossem numero um nos tops. O infeliz Lawrence só queria ser um líder amado e respeitado. O infausto Lawrence só queria gravar dez albuns em dez anos e depois cada um seguia o seu caminho. A sorte não lhe sorriu e as coisas não correram como ele tinha planeado, a não ser esta última resolução, e mesma esta não foi fácil. Depois de gravado o dito cujo décimo, o `Me And A Monkey On The Moon´, na hora de pagar a conta o Alan McGee, o patrão da Creation com quem tinham contrato, disse que estava nas lonas e não tinha como o fazer. Foi o Martin Costello que tinha trabalhado com eles na Cherry Red Records que se chegou á frente e lançou o album na sua nova editora, a Él. Mas não era só má sorte, o nosso mal-afortunado Lawrence também gostava de dificultar o seu karma. Quando os Felt estavam mais perto de ser um sucesso, precisamente com este álbum e o seu hit 'Primitive Painters', ele decidiu que o album seguinte seria um disco completamente instrumental de seu nome ´Let The Snakes Crinkle Their Heads To Death´. Não é preciso ser um Stephen Hawking para perceber o que podia correr mal. Este 'Ignite The Seven Cannons' é o filho enjeitado do desgraçado Lawrence, que nunca fez as pazes com a produção carregada de reverbs e cenas do Robin Guthrie, moço que tocava guitarra nos Cocteau Twins. O azarento Lawrence já tinha tentado trabalhar com alguém próximo dos Twins, o Ivor Raymonde, pai do Simon baixista da banda, que entre muitas outras coisas trabalhou com a Dusty Springfield, mas também não correu bem. Neste caso foi novamente o mal fadado dinheiro que faltou para o Ivor fazer os arranjos da ´Sunlight Bathed The Golden Glow´. Mas passados mais de trinta anos, com a recente reedição dos cinco primeiros albuns da banda, o desgraçado Lawrence, com o produtor do primeiro album, o John A. Rivers, conseguiu remisturar seis das canções do disco para soarem como ele tinha sonhado originalmente. Eu gosto muito do disco, e embora a produção do Robin Guthrie seja um pouco excessiva, não destroi o que de melhor têem as canções dos Felt, que é a sua beleza intricada, numa aparente fragilidade que parece desfazerem-se a qualquer momento mas que no entanto aguentam-se sólidamente seguras. Se talentoso Lawrence tivesse nascido em Gondomar seria certamente ourives e faria belas filigranas.
Podem ouvir aqui uma das minhas favoritas, a ´Black Ship In The Harbour´

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