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A mostrar mensagens de outubro, 2018

Terence Trent D'Arby

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Terence Trent D'Arby 'Sign Your Name' 1987 São seis horas, ela deve estar a chegar. Já é quase noite. O verão já é uma memória e o crepúsculo chega cada vez mais cedo. A hora dos cansados como no conto do Vila-Matas. Isto é só mais uma das coisas que mudaram. Agora falo sozinho. E quando leio  também o faço em voz alta. Há um ano atrás achava ridículo quem o fazia, mas desde que fiz o transplante de coração muita coisa tinha mudado, podia dizer-se que eu era outra pessoa. Era como se o novo coração tivesse trazido agarradas emoções, sentimentos, gostos do anterior inquilino. Eu sei que é uma estupidez, é um músculo, uma bomba, mas o que é certo é que se antes os meus hábitos de leitura se resumiam às revistas no dentista, Holas de 1982, e à bula dos medicamentos quando estava na casa de banho, agora sou um leitor compulsivo de romances e até já me aventurei pela escrita enviando uns poemas para os Anuários da Assírio & Alvim. As minhas experiências musicais eram duas

Sugarhill Gang

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Sugarhill Gang 'Rapper's Delight' 1980 Era a primeira vez que voltava a casa desde a morte da minha mãe. Ao contrário do que costumava ler nos romances que enchiam as paredes lá de casa, ela, a casa, não me pareceu mais pequena ou mais triste, pareceu-me mais desarrumada. A única luz provinha da televisão na sala. Estava ligada, a dar o Domingo Desportivo, mas não havia ninguém na sala. Ouvia música vinda do quarto dos meus pais. O meu pai continua a comportar-se como se fosse um adolescente. Tem quase sessenta anos e  continua a considerar que não se deve comportar como um adulto. Isso põe-me doido. Durante o liceu se algum colega ia lá a casa ele plantava-se no quarto connosco a falar de música, a perguntar se alguém queria fumar liamba que o primo Delfim lhe tinha trazido de Angola. Embora todos achassem o máximo, eu odiava tudo aquilo. Caramba, pai, não achas que já é altura de cresceres? E a mãe, perdida nos seus livros, encolhia os ombros e dizia, sabes como é o te