Sugarhill Gang
Sugarhill Gang
'Rapper's Delight'
1980
Era a primeira vez que voltava a casa desde a morte da minha mãe. Ao contrário do que costumava ler nos romances que enchiam as paredes lá de casa, ela, a casa, não me pareceu mais pequena ou mais triste, pareceu-me mais desarrumada. A única luz provinha da televisão na sala. Estava ligada, a dar o Domingo Desportivo, mas não havia ninguém na sala. Ouvia música vinda do quarto dos meus pais. O meu pai continua a comportar-se como se fosse um adolescente. Tem quase sessenta anos e continua a considerar que não se deve comportar como um adulto. Isso põe-me doido. Durante o liceu se algum colega ia lá a casa ele plantava-se no quarto connosco a falar de música, a perguntar se alguém queria fumar liamba que o primo Delfim lhe tinha trazido de Angola. Embora todos achassem o máximo, eu odiava tudo aquilo. Caramba, pai, não achas que já é altura de cresceres? E a mãe, perdida nos seus livros, encolhia os ombros e dizia, sabes como é o teu pai, não ligues. A porta do quarto abriu-se. Ah, já chegaste! Já és doutor? Estás com um ar cansado. O sorriso era o mesmo, a tristeza leve no olhar era nova. Anda cá ouvir um single que eu comprei ontem. São um grupo americano, Sugarhill Gang e tocam um novo estilo de música. Tens que ouvir, é muito fixe. Virou as costas e entrou no quarto sem esperar pela minha resposta. Sim, pai, já vou, gritei por cima da música, vou só arrumar a minha mala e preparar alguma coisa para jantarmos. Deixei a mala no meu quarto e agora, muito provavelmente, ainda terei que sair porque o frigorífico e a despensa estão quase de certeza vazios.
'Rapper's Delight'
1980
Era a primeira vez que voltava a casa desde a morte da minha mãe. Ao contrário do que costumava ler nos romances que enchiam as paredes lá de casa, ela, a casa, não me pareceu mais pequena ou mais triste, pareceu-me mais desarrumada. A única luz provinha da televisão na sala. Estava ligada, a dar o Domingo Desportivo, mas não havia ninguém na sala. Ouvia música vinda do quarto dos meus pais. O meu pai continua a comportar-se como se fosse um adolescente. Tem quase sessenta anos e continua a considerar que não se deve comportar como um adulto. Isso põe-me doido. Durante o liceu se algum colega ia lá a casa ele plantava-se no quarto connosco a falar de música, a perguntar se alguém queria fumar liamba que o primo Delfim lhe tinha trazido de Angola. Embora todos achassem o máximo, eu odiava tudo aquilo. Caramba, pai, não achas que já é altura de cresceres? E a mãe, perdida nos seus livros, encolhia os ombros e dizia, sabes como é o teu pai, não ligues. A porta do quarto abriu-se. Ah, já chegaste! Já és doutor? Estás com um ar cansado. O sorriso era o mesmo, a tristeza leve no olhar era nova. Anda cá ouvir um single que eu comprei ontem. São um grupo americano, Sugarhill Gang e tocam um novo estilo de música. Tens que ouvir, é muito fixe. Virou as costas e entrou no quarto sem esperar pela minha resposta. Sim, pai, já vou, gritei por cima da música, vou só arrumar a minha mala e preparar alguma coisa para jantarmos. Deixei a mala no meu quarto e agora, muito provavelmente, ainda terei que sair porque o frigorífico e a despensa estão quase de certeza vazios.
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